quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Lá fora a escuridão impiedosa engolia toda e qualquer tentativa de enxergar algo além da ponta do nariz. As trevas prostituíam cada canto desprotegido da cidade silenciosa.
Tic. Sabrina se levantou rapidamente e, tão rápido quanto levantou, caiu mais uma vez. Foi quase um espasmo involuntário. Podia sentir cada fibra de seus músculos enrijecida como pedra; tencionada o suficiente para ficar ali, caída pelo resto da eternidade.
Não que ela soubesse quanto tempo lhe restava. Trinta e sete cartelas vazias, alguma meia dúzia de comprimidos fugitivos espalhados pelo chão, o pânico, uma história e um rádio-relógio. Nada mais.
Foi naquele exato momento de completa escuridão, antes que um outro dia qualquer ameaçasse despontar em meio à treva imensa que acometia a cidade silenciosa, o bairro central, a mansão dos Hilmmert e a suíte luxuosa. Era tarde da noite. Ou, devia ser. Sabrina nunca saberia. Tac.

Nada (melhor) pra fazer em uma aula qualquer - 18 de setembro de 2008.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A menina dos olhos de Capitu

Chamaram-me Capitu. Aquela velha história. A tradicional, escrita por Machado de Assis. Bentinho como sendo Dom Casmurro, Escobar, Ezequiel, amores, traições (ou não) e uma mulher; Capitu. Capitolina pra ser mais precisa. Não pela pele, pelo cheiro ou pela expressão. Pelos olhos. Olhos de ressaca. Olhos de mar revolto, mar traiçoeiro. Olhos amendoados, profundos.

Começou em uma conversa qualquer e não me saiu da memória. Talvez por saber que lidar com sentimentos é tão complicado; ou por saber que os olhos são o espelho da alma. Traiçoeiros, foi o que me disseram. Mas não agora. Não a todo instante. Recaiu sobre mim a mesma visão de Dom Casmurro sobre Capitu. Se os olhos dela realmente guardavam em si a ressaca de um mar; não se sabe. A minha certeza é uma. Simples. É complicado lidar com sentimentos; principalmente os que me dizem respeito. Sendo meus ou para mim.

Entre o avanço estrondoso do mar, a quebrada sistemática das ondas e a retração que se dá, por conseguinte, essa sendo inevitável como é; o mar segue seu rumo comandando o vento. Temido, porém, fascinante. Às vezes a retração é não só inevitável, mas necessária; eu faço o melhor que posso.

Capitu defendia-se verdadeira. E ao que me diz respeito, sem querer ofender as opiniões contrárias ou acabar com o mistério genial de Machado, acredito nela.

Ok, tudo isso pois me chamaram.. Capitu.

Dedicado a um velho amigo.
18 de maio de 2007.
"A chuva cai sem ter razão"

Eu sabia que precisava sair dali. Era fato. Meu lugar não era aquele e a única forma de chegar ao meu destino era enfrentando as ruas da cidade. Encontrava-me na porta. Entre a entrada e a saída; mais complexo do que aparenta. Isso por que o céu estava com um aspecto cinzento não muito amigável e absolutamente nada ensolarado. Decidi que já era hora. Bom, lá vamos nós.

As dúvidas são muitas, são intensas. Se não for o destino, é o caminho. Se não as cores, os sabores. Dar o primeiro passo foi quase impossível. Não queria nem pensar em molhar meu cabelo. Bom, lá vamos nós. Eu, as ruas da cidade e meus equipamentos de guerra. Mp4 a postos, celular no bolso, bolsa no ombro, minha visão e percepção; e só. Graças a Deus e a algumas leis da física, os passos seguintes não passam nem perto do primeiro em nível de dificuldade.

A partir dali, sabia de duas possibilidades; ou chovia, ou não chovia. Uau, não? Mas era tudo que eu precisava saber. Das duas, uma. Você sempre tem duas opções: ou presta atenção no caminho.. e vive, ou corre.. e deixa tudo pra trás. Medo da chuva, de molhar o cabelo, ou algo assim. Mas nem faz muito sentido correr da chuva. Se ela começar, já é provado e registrado que correr na chuva molha mais do que.. andar. Vai esperar a chuva pra então andar pela vida?! Não me parece lá muito prudente.

Enfim, entre passos, compassos, letras e músicas, voltei dos devaneios e resolvi prestar atenção na rua. Olhar pros dois lados e aquelas coisas todas que a minha mãe me ensinou (a duras penas, diga-se de passagem, dada a pentelhice da criança). Um carro virava a esquina; aproximava-se. É então que o cérebro entra em cena. Faz cálculos, tira fotos, processa o constante movimento da cena inconstante. Tudo tão rápido, rápido de mais pra racionalizar. Uma coisa eu sei; eu dei o primeiro passo. O primeiro pra atravessar a minha rua. Afinal, quanto mais tempo eu ficasse parada ali, mais arriscado se tornaria. É, de pequenas a grande proporções na minha vida.

Agora começou a chover; tudo bem.. o destino? minha casa.

16 de maio de 2007.
"Senta que lá vem a história"

Entre inconstâncias, loucuras e devaneios lá vou eu.
Vivendo minha vida; dividida.
Não fazendo a mínima idéia da chegada ou da saída.
Se me levo ou apenas me acompanho.
É justamente isso que me parece o mais fascinante.

- O que você faria?
- Eu faria tudo.
- Tudo? Exemplo..
- Se fosse preciso eu venderia minha alma ao diabo..
- Mesmo?!

(...)

Até onde você iria?!

15 de maio de 2007.
A síndrome do mais um

Falaram-me inúmeras vezes que o correto seria nomear o texto após o termino do mesmo. Discordo. Não que eu queira contestar a metodologia, longe de mim; nem perto, aliás. Hoje eu quero apenas discordar. Chega de convenções. O mundo continua sendo o mundo, o mercado de trabalho continua com a tal saturação, o corpo de fundo cada vez aumenta, o dólar sobe e desce, o Grêmio ganhou um jogo, e foi preso mais um psicopata. é, apenas mais um.

Quero discordar da nossa visão, digo nossa porque sei estar na mesma "canoa furada". É a visão do.. mais um. No país do futebol, onde o Grêmio ganhou um jogo (e me perdoem a falta de domínio quanto ao futebol), mais um psicopata foi preso; o rodapé da página, entre uma e outra notícia esportiva. O caráter de normalidade de todos esses absurdos volta e meia me vem à tona. O que mais me revolta é que como vem; vão.

Quero gritar por mudanças, me envergonho de ficar quieta e me tranqüilizar sabendo que "nada posso fazer". Quem sou eu pra mudar o mundo? Seria quase um ideal suicida acreditar que posso.. certo?! Quem sou eu pra ser alguém? Já que é tão difícil.. o mundo continua sendo o mundo e o mercado de trabalho continua saturado. É assim que eles me querem. Foi assim que eles me criaram. Gritando em silêncio, sentindo em silêncio, cenas que se repetem dia após dia, num tal de cotidiano. Apenas mais uma noite, chuva e eu aqui; Sem saber o que fazer e fingindo correr (mesmo que em círculos) em direção a alguma coisa que eu transpareço, ainda que falsamente, acreditar.

Não que faça sentido, mas é normal. Uma normalidade doentia. É assim que eles me querem. Alienados de uma sociedade com alicerces quebrados e falhas morais. Eu sou só mais uma, entre o mar de gente há mais uma; eu. Eles são legais, acham que sabem fazer todas as coisas bacaninhas. Te oferecem inutilidades pagas, e te ocupam em toda a tua falta do que fazer. Você almoça, janta vendo o sangue escorrendo do seu televisor em telejornais aleatórios.. Mais um jornal aleatório, mais trinta pessoas friamente assassinadas, mais um psicopata. Mais uma entre a massa; eu.

Que fique aqui o apelo, o apelo do meu lapso de sanidade, antes que me perca novamente em devaneios alienados, fica meu grito..

Eu discordo.

18 de maio de 2007.
Velha carta de amor

Há quem diga que a distância atrapalha. Não que eu discorde. Atrapalha, complica, às vezes machuca. Talvez até deva confessar que não são tão poucas vezes como gostaria. Eu diria que é inevitável a solidão bater na porta, assim, sem avisar. Fica inevitável não respirar fundo e olhar pros lados, numa tentativa frustrada de dissolver os pensamentos. Então vem a pergunta; será que foi assim que você imaginou que seria? Os seus olhos sozinhos, fitando o horizonte com a esperança incerta de que em algum lugar distante, outros olhos estejam tão perdidos no horizonte quanto você; apenas buscando pelos seus. Não se sabe ao certo se é reflexo do pôr- do-sol, o brilho dos primeiros raios refletidos no mar, daquele dia que não sai da memória; ou uma lágrima escorrendo sem alarde no canto do rosto. O brilho daquele momento cego de amargura.

Tudo se move de esperança; ainda que por vezes pareça completamente estacionado em local proibido, perigoso. Se move. De uma parte a outra do globo, não interessando a distância, as estrelas permanecem no mesmo lugar. Pode parecer tolice; mas quando eu me deito no chão do quintal e aponto pra estrela que um dia atendeu o meu pedido; eu peço que, ainda que em outra parte do globo, da sua sacada, você se lembre de apontar pra ela também. Assim eu sei que estamos olhando juntos, na mesma direção. Eu apontando pra você e você pra mim, e em linha reta nos cruzamos em algum lugar do infinito; ainda que seja nos meus sonhos.

O tempo passa devagar. Os segundos parecem horas, e as horas, anos. Será que foi assim que você achou que seria? Há quem diga que a distância atrapalha. Que graças a ela um grande amor não acontece. Eu só queria te confessar que às vezes a distância dói, machuca. Por vezes, algumas situações me inebriam os sentidos e eu me vejo perto de você; eu te vejo sonhando meus sonhos, sentindo meus beijos, me envolvendo em teus abraços. Eu escuto a tua voz e graças a um súbito impulso disparando em meu peito eu te procuro em todas as direções.

A distância atrapalha, sim. Mas eu me lembro da cor dos teus olhos; me lembro do teu olhar. Me lembro do timbre da tua voz e do efeito sobre a minha pele. Eu me lembro do toque, me lembro do gosto, eu sinto teu cheiro passeando com o vento e espero que ele ainda leve o meu até você. Eu ainda lembro do teu jeito embaraçado, das covinhas no sorriso, do seu lado da cama e do seu suspiro rouco e embargado. Lembro do seu jeito de abrir os olhos depois do beijo, lembro do beijo. Eu lembro a forma que você me olhava quando achava que eu ainda estava dormindo. Lembro das noites que eu te vi dormir, do teu sorriso, da tua manchinha no dente e do tom da tua pele. Eu ainda lembro o que você me pedia, como você me pedia, do que você gostava. Lembro do jeito que você me olhava, das suas fitadas nos meus olhos, na minha boca e das análises detalhadas; como quem grava no fundo da alma com todos os detalhes. Eu ria por dentro; talvez agora eu entenda o porquê.

Tudo se move. Move. As coisas são como você achou que seria? Nada mais é como antes. Talvez seja mais, talvez menos. Ou quem sabe percepção. Mas o antes já ficou pra depois e no depois só me importa o agora. Eu precisava confessar que às vezes dói; talvez deva confessar que não são tão poucas vezes como eu gostaria. Mas entre segundos, horas, anos e todos esses séculos nos quais eu não tenho como sentir o teu calor; nada tem força o suficiente pra me levar pra longe de você. Ainda que às vezes eu olhe perdida pro horizonte e uma lagrima insista em cair, ainda que a minha esperança seja sempre incerta, que a minha insegurança me corroa a confiança, que as minhas dúvidas se misturem aos meus medos, ainda que o passado por vezes me atormente e que as tuas dúvidas se façam minhas; ainda que eu não tenha encontrado o equilíbrio e o jeito certo de viver sem me bagunçar com tudo isso; eu acho que estamos indo bem. Por que NADA tem força o suficiente pra me levar pra longe de você.

Eu precisava te confessar que está difícil. E acho até que está tudo bem; ninguém precisa se sair bem o tempo inteiro. Ninguém precisa estar bem o tempo todo. E eu ainda acho que estamos indo bem. É flagrante; você pensa cada dia mais, sonha cada dia mais, deseja cada dia mais. Não tem dor que se compare a saudade. Onde você está agora? Continua acordando de mau humor? Será que perdeu a mania de balançar a perna quando fica nervoso? A dor da saudade é tentar, ainda que em vão, não pensar nas tuas risadas que não sou eu quem escuta, nos teus beijos que não são meus, nos carinhos que não sou eu quem faz, que não é o meu rosto que você vê quando acorda, no teu dia a dia que não sou eu quem vive. Precisava confessar que eu tenho inveja; tenho ciúmes, talvez um pouco de raiva. Que por vezes eu me descontrolo e entre sonhos esfumaçados me sinto impotente. Talvez eu espere muito, te cobre muito. Te deseje muito; muito.

É inevitável não pensar; não pensar no que eu quero, no que eu preciso; não pensar em você. Mas eu te sinto tão perto, e talvez agora eu precise ouvir de novo o som da tua voz dizendo que me ama; me dizendo que eu preciso de você e que você também precisa de mim. Se a distância atrapalha? Confesso que eu tentei não deixar chegar tão longe assim; mas não consegui.

E é por causa da distância que se aprende a dar valor; encontros, beijos e abraços viram sonhos. Os sonhos mais intensos que eu já sonhei. Que me fazem forte pra tudo o que vier. Dois corações passam a ser um só e a certeza de saberem-se ali domina qualquer solidão. Os planos são feitos de desejo puro. E o fato de pensar que seja de que canto for, olhamos na mesma direção, nos coloca juntos o tempo todo. Aprende-se a dar valor pras palavras, elas se tornam nosso elo forte e valem todas as que são ditas. Valem as não ditas, valem os sentimentos. Vale o olhar se cruzando, cada gesto. Cada detalhe vale, vale muito. Só quem vive pra saber.

A distância é algo que só quem enfrenta entende o valor de uma foto, uma carta, uma recordação. Só com a distancia você entende que pra reviver, basta relembrar. Felicidade, ainda que sem tamanho, não é medida em dias, anos ou séculos, e sim, por instantes. E não há felicidade que se iguale a que eu sinto por te saber aqui dentro do meu peito. E todas as vezes que eu lembrar, ninguém entenderá o motivo do meu riso.

Ninguém mais entenderia o valor que tem um segundo para poder te olhar.. um, ou três.. Eu tenho certeza que hoje, eu daria o mundo pelo teu abraço. Mas eu tento ser paciente; não precisa ser fácil o tempo todo. Não desisto de persistir um pouco mais, mesmo que entre lágrimas; o que há de errado com isso afinal? Eu acredito no tempo reservado pra nós em algum lugar desse caminho.

Amar você é enlouquecer sem perder um pingo de sanidade. É conhecer toda a grandeza de sentir, seja onde for e ter a certeza de que é exatamente como eu achei que seria.

28 de junho de 2007.
Meu retrato embaraçado

Sou a criança entre mil pensamentos mirabolantes,
bolas de cristal e mandalas,
bruxas e vampiros,
segredos e bonecas de porcelana.
A criança que se encontra,
- ou se perde. -

A adolescente normal;
com crises, confusões e um esconderijo de frente pro mar.
Tomada por fases, receios, inconstâncias e indefinições.
Quem sabe... não tão normal assim.

Alguém que não descobriu ao certo se é condutora ou acompanhante da própria história.

Feita de páginas a fio,
noites escuras,
sonhos,
lágrimas incontidas e um romantismo incurável.

Menina mutante.
Não tão decidida se têm várias opções.
Loucura e lucidez, alegria e tristeza, tudo junto.

Alguém que gasta muito tempo pra coisas práticas,
que ultrapassa limites,
pensa demais e não se contenta com equilíbrio,
- apesar de desejá-lo o tempo inteiro. -

Sou meu próprio labirinto, meu sufoco e minha distração.
Procuro a luz, mas os poucos raios que encontro, eu tampo com as mãos.

Sou a cigana de uma terra distante,
telespectadora saudosista do passado,
menina e mulher,
portadora de marcas permanentes sob a pele,
fogo e vida,
a parte não traduzida de um longo romance que vai de Clarice Lispector a Sidney Sheldon.

Auto-retrato - Aula de Redação e Expressão Oral I.
04 de setembro de 2008.
Faltou pouco para ser perfeito.
Ficou tudo jogado num canto.
Caixas, pacotes, lembranças ásperas e um violão... Que ninguém ousou buscar.
"O próximo inquilino que decida o que fazer com isso."

Foi assim, um sonho interrompido pelo gosto amargo.
Foi um grito mudo ecoando pelos cômodos de um apartamento vazio.
O olhar cego perdido na desilusão.
Foi como o tilintar das chaves fechando a porta pela última vez.

Agora ela acorda as seis e dorme as três.
"Será que ele ainda tem crises de insônia?"
Sempre assim.
Abre a janela e vê a luz entrar sem permissão.
O cheiro salgado das lágrimas invadindo o quarto mais uma vez.
Já faz tempo que o sol nasce e eles fingem que está tudo bem.

Vão pra rua de um mundo que de tão mundo os esqueceu.
Entre correntes de vento e vitrines.
De casa pro trabalho, do trabalho pra casa.
Os dias passam e tratam de se apagar por si só...
Sucessivamente entre ventos e vitrines.
De casa pro trabalho e do trabalho pra casa.
Sempre assim.
Mais um dia eles vão pra rua de um mundo que de tão mundo os esqueceu.
Corrói como veneno com açúcar.
É a morte lenta de uma história adocicada.

Descrição do fim - aula de Redação e Expressão Oral I.
20 de setembro de 2007.
Ele é O cara.
Aquele tipo de cara que é "O cara", sabe?
Ele sempre foi O cara e nunca percebeu.
Nunca entendeu que Os caras também têm defeitos e dão umas mancadas aqui e ali.
Ele é.. assim.
Isso deve ser normal dOs caras.
Eles nunca entendem que são Os caras apesar de serem reles mortais.
Ele acha que precisa provar pra todo mundo que é O cara.
Nunca percebeu que não precisa provar nada a ninguém.
Ele sempre foi O cara, independente do que diziam.
Tentou se convencer que não valia nem um centavo, mas não deu.
Pelo que eu sei, na vida dOs caras sempre aparece alguém que enxerga o quão grandes eles são.
Mais cedo ou mais tarde aparece a pentelha da vida dOs caras, né?
Não deve ser fácil ser O cara.
Aliás, eu sei que não é fácil, mas ainda assim ele é.
Ele é um dOs caras mais determinados que eu já vi.
É O cara que tá sempre do meu lado, ou do lado de quem precisa dele.
É O cara que me faz bem como ninguém no mundo faz.
É O cara que faz e faz bem feito.
Deve ser mania dOs caras achar que as pessoas não percebem isso.
Mas sabe?
Elas percebem.
Tu não entendias o porque de eu ter tanta certeza de que tudo ia dar certo pra ti.
É que eu sei que as coisas dão certo na vida dOs caras porque eles merecem.
Eu sempre soube.

(...)

18 de outubro de 2008.
É aquele momento. O momento em que você saiu de casa e encarou o Shopping num domingo (aquele fatídico dia que a passagem de ônibus é mais barata e a cidade inteira resolve ter a mesma idéia - infeliz - que você, ir ao shopping). Aquele momento em que você entrou e percebeu que já faz tempo que a sua paciência pra aguentar aquela pirralhada, espalhada por todos os cantos - em cantos estratégicos - se achando os donos do pedaço, simplesmente sumiu, evaporou. É naquele momento, quando você passa pela árvore de natal gigantesca, as renas, os presentes (feitos de espuma), o papai noel, suas ajudantes (gostosonas) e aquelas crianças facinadas pelo clima mágico de toda essa farça comercial, que você percebe que sua paciência sumiu, evaporou. Você percebe como já passou tempo, daquele tempo, onde você costumava ficar fascinado pelos presentes de natal, a carta pro papai noel (agora eu acho que as crianças mandam emails) e esperava ansioso e confortável em seu pijama a chegada do bom velhinho; e essa, era a sua maior preocupação. É naquele momento em que você já esqueceu que a algum tempo atrás a pirralhada, aquela espalhada em todos os cantos, tinha um integrante a mais, você. Você esquece até, o quanto aquilo tudo já foi importante.

19 de novembro de 2007.
Os desejos que restaram

Eu nos desejo muitos dias de sol. Daqueles não tão quentes se não a tua pressão baixa, porém não tão frios se não eu entro em um caso agudo de hipotermia. Desejo dias claros e coloridos como um nascer do sol a beira mar, dias de brilho intenso no olhar e no coração. Desejo a nós um porto seguro pra voltar nos dias difíceis. Desejo alguns dias difíceis e desejo que estes sejam encarados com o equilíbrio, a fé e a paz de espírito que conquistaremos ao longo de nossos caminhos. Desejos belos caminhos, belas paisagens, belas fotos, belas músicas, belas companias, belas emoções, risadas, lembranças e o orgulho de termos vivido todas as situações em sua plenitude. Desejo a nós todo o perdão por nossos erros, todo o acalento para as nossas angústias, todo o amparo para as nossas dificuldades e toda a esperança para o futuro. Desejo pessoas maravilhosas, desejo planos bem sucedidos, desejo mudanças necessárias, ainda que estas sejam dolorosas. Desejo a nós algumas doses cavalares de paz, de amor, de calma, de carinho e atenção, de companheirismo, de preenchimento interno e além disso alguns remédios, ainda que amargos, para todas as nossas infermidades. Desejo que o tempo passe na velocidade ideal em nossas vidas e que nem um segundo deste seja desperdiçado. Desejo a nós alguns momentos de solidão para colocar as idéias no lugar. Aliás, desejo as idéias no lugar. Desejo momentos de festa, de pentelhice, momentos daquela sua risada expontânea e deliciosa. Desejo a nós todas as sensações. Desejo que abramos as portas e as janelas para o novo, que ampliemos nossa visão e que cuidemos da cabeça, do coração e das responsabilidades (não necessariamente nessa ordem). Desejo horas e horas de diálogo. Desejo palavras suaves, ainda que dolorosas. Desejo agradáveis surpresas, solução para os problemas e desejo que aprendamos a dar o valor pra cada coisa por aquilo que elas realmente valem. Desejo clareza perante as situações das nossas vidas. Desejo que as nossas escolhas sejam as certas (ainda que eu não saiba quais são as erradas, se é que elas existem). Desejo momentos em família e momentos entre amigos (a segunda família). Desejo pessoas maravilhosas pra contar e que nos permitamos contar. Desejo histórias, viagens, feriados, finais de semanas e semanas. Desejo deveres e obrigações. Desejo um tempo pra poder recordar e algum pra esquecer. Que a gente aprenda a tirar fotos nos momentos importantes, já que depois de um tempo elas irremediavelmente farão falta. Que sempre possamos rir dos nossos defeitos e superar as nossas dificuldades. Desejo que o espelho de nossas casas seja sempre sincero conosco, seja na imagem de dentro ou de fora. Desejo romance, comédia e aventura (drama e ficção só daqueles com pipoca e edredon). Aliás, eu desejo muita pipoca e edredons. Desejo chocolate (e dane-se as espinhas), desejo saúde, sonhos e desejos. Desejo muitos presentes de natal, de aniversário ou de nada mesmo. Desejo cartas, emails e abraços que nos tragam felicidade plena. Desejo proteção divina, oração, humildade, nobreza, caridade e entendimento. Desejo que do orgulho se faça amor e o que hoje engasga se faça conversa. Desejo tempo preenchido e tempo livre. Desejo contato interior e contato com o mundo lá fora. Desejo que nunca se perca o gosto pelo novo, o gosto pela vida, e que, porém, não se deixe de lado o valor do antigo. Desejo que nem as baratas, as cobras, as moscas ou as aranhas invadam nossas casas. Desejo que cada relação seja vivida por sua vez, incluindo o começo o meio e o fim. Desejo inclusive o auto-perdão, a auto-estima e uma dose certa de independência. Desejo que se for pra depender, dependamos de amor, de amigos com aquele ombro amigo especial e além disso, no máximo de sorvete, pudim e bala de coca cola. Desejo belas músicas, belos acordes, belos timbres, cantos e instrumentos. Desejo uma dose certa de fracassos, todos seguidos de novas tentativas. Desejo que o que hoje dói cure as feridas e mais tarde possibilite uma nova história a ser escrita com dois belos finais. Desejo a cura de todos os males do corpo e da alma, a libertação de todos os fiozinhos, os chips, as obsessões, as hipnoses e da falta de intendimento. Desejo que se acabe essa falta de coisas boas pra falar. Desejo que nossas conquistas sejam verdadeiras e que tudo aconteça no tempo certo. Que as experiências curem as desilusões e as feridas (já que eu não acredito no tempo). Desejo que não cometamos novamente os mesmos erros com outro alguém. Desejo que não haja desvios no caminho da busca pela felicidade. Desejo que aprendamos cada vez mais com nossos erros e que nossas falhas sejam sempre trabalhadas e por conseguinte melhoradas. Que não se perca a esperança, mas que tampouco se viva dela. Desejo força pra lutar contra o indesejado e também pelo desejado, se esse fizer mal. Desejo uma visão perfeita da realidade, sem máscaras e fantasias anestésicas. Desejo confiança e companheirismo. Desejo lutas e intervalos com sombra e água fresca. Desejo a nós um mundo melhor, pessoas melhores. Desejo que deixemos de desejar uma série de desejos. É, isso mesmo. Desejo que todos os desejos sejam sinceros. Desejo responsabilidade, respeito, consciência e juízo. Desejo alguns impulsos e nenhum arrependimento. Desejo que as nossas vidas sejam plenamente vividas, agora que não se trata da "nossa" vida. Desejo amizades verdadeiras e vidas inteiramente saudáveis. Desejo pizzas de alho e olho, filosofias de madrugada e olhares esperançosos. Desejo que dor nenhuma, seja de decepção, de raiva, de angústia, de perda (...) se sobreponha as belas lembranças de uma história. Desejo um futuro brilhante e a certeza de que a única coisa definitiva na vida é o fim dela mesma.

02 de janeiro de 2008.
Cartinha de Natal

Papai Noel, eu até sei que você já tá meio velhinho e deve estar cansado de milhões de pessoas fazendo desejos e depositando esperanças e sonhos em cima de você. Eu também estaria. Na real, de certa forma eu até que te entendo. Mas é que, sabe, minha mãe sempre diz que a gente não vai saber nunca se uma coisa daria certo ou errado se não hm, tentasse.

Eu sei que to meio atrasada, nem me importo se for pro ano que vem. Ok, me importo um pouquinho. Queria te pedir uma ajudinha pra seguir em frente. Aquela história da fé que você me escuta sussurrar todas as noites pouco antes de dormir. Aquela sensação de saber como é, porque é e ainda assim querer diferente. Aquela vontade de voltar no tempo e fazer muita coisa diferente, ainda que eu saiba que é só porque isso me parece beeem mais fácil de encarar. Bem produtivo mesmo. Uma ajudinha daí com essa minha teimosia ia bem, viu? Não quero mais fugir dos meus medos, viver dos meus vícios ainda que me pareça o mais fácil a ser feito. Eu sei que eu tenho tendência a dramatizar e a me prender estupidamente nos pontos negativos de seja lá o que for. Seria ótimo um help pra me fazer lembrar de dar o valor que as pessoas maravilhosas que estão a minha volta, a minha vida em si, a minha saúde, minhas oportunidades (...) tem realmente. Por que eu insisto em me prender em "detalhes" desagradáveis? Por que eles sempre desabam com taanta importância pra mim? Queria ser aquele tipo de pessoa alto-astral, zen e curtir muito um reggae. Tá, eu to tentando, mas nunca fui muito boa na hora de lutar contra a correnteza. Uma pisciana desajustada. Mas, é com as dificuldades que a gente aprende, não? E meu Deus, ou melhor, Papai Noel, eu tenho taaanta coisa pra aprender. E das que eu já sei, tenho um bocado pra compreender. Sei que não quero mais magoar ninguém e muito menos ser magoada. Quero perdoar os meus erros, os erros dos outros e a minha indulgência enrraivecedora para com eles. Ah, e já queria aproveitar pra pedir uma ajudinha básica pra desencanar do que os outros pensam, sentem ou deixam de fazê-lo. Já notei que seria bem mais fácil se eu aprendesse a focar no que eu senti e no que eu vivi pra desfazer esse apertinho. Orgulho ferido e mágoa atrapalham um "pouco" as coisas. Assim, mesmo meeesmo, eu queria era saber se teria como me mandar um príncipe encantado. Na real, nem precisa ser encantado; desde que seja um príncipe. Não sou muuuuito exigente. Ok, eu sou, um pouco. Hm, bastante. Mas seria supimpa se eu ganhasse um príncipe pra chamar de "meu" príncipe. Um príncipe que eu sinta o suficiente pra chamar de meu. Que eu sinta muito, que eu admire muito, que eu me apaixone muito e que eu ame muito. Não precisa ser uma cena de novela, mas não acharia mal se fosse. Um príncipe que me fizesse cafuné pra dormir, que me desse colo quando eu to precisando chorar, que escutasse as minhas besteiras e que realmente se interessasse por elas. Um príncipe com um papo interessante, com cultura, equilíbrio, espiritualidade, gosto pela vida e aquele brilho fascinante no olhar. Um príncipe não tão fácil e não tão difícil. Um "meu" príncipe. Um príncipe pra eu confiar, sabe? Alguém que eu possa mostrar realmente quem eu sou e que ainda assim, me ame. Aliás, um príncipe que me ame. Me ame (e dane-se o português e suas colocações pronominais.). Ame de verdade. E ah, se não for pedir muito, que seja um amor que eu entenda, sinta e confie. E é importantíssimo que meu príncipe seja alguém que eu tenha porque admirar. Alguém leal e de palavra, que me traga o mundo e não uma meia dúzia (e meia) de palavras sem convicção. Nem quero que ele seja perfeito, mas não reclamaria se ele fosse perfeito pra mim. Um príncipe que eu admirasse, alguém melhor do que eu, com lições (agradáveis, pelo amor de Deus) a me ensinar. Alguém que escolha ficar do meu lado, na real mesmo, alguém que lute pra ficar do meu lado e que veja motivos pra continuar nele, dia após dia. Alguém que percebesse o quanto é fácil me dizer tudo o que eu quero ouvir, sem uma palavra sequer. Alguém que me inclua e me encaixe perfeitamente em seus planos. Pra ser bem sincera, seria bom alguém sem planos, pra planejar comigo (ou quem sabe não planejar nada). Alguém pra viver o que eu sempre acreditei ser o certo. Alguém pra viver a vida do meu lado e contar sempre comigo. Alguém que eu possa contar. Alguém que não dependa de mim, que não enlouqueça com a minha ausência mas que se preencha com a minha companhia e sinta a minha falta. Alguém que tenha a sua própria vida e não busque viver a minha. Que fique solto mas que seus instintos o tragam de volta pra mim. Um grande amigo e acompanhante. Eu queria um príncipe pra me fazer amar de novo. Alguém que eu reconhecesse como o meu príncipe pelos olhos e não como um estranho de traços familiares. Alguém que me livre de máscaras e não alguém que me obrigue a usá-las. Alguém que saiba respeitar os sentimentos, seja os meus ou os de quem for. Alguém tão assim quanto eu. Tão sem compromissos. Pode ser alguém bagunçado como eu, quem sabe um alguém triste ou sem esperanças. Mas, que seja um alguém feito pra mim. E, só pra mim. Alguém que mantenha meus olhos abertos e não um alguém que insista em fechá-los. Quero um príncipe que me traga belos sentimentos, alguém que insista na idéia de que eu tenho que me expressar e realmente leve os meus sentimentos em consideração. Aliás, alguém que possa e queira levar os meus sentimentos em consideração durante as escolhas da vida. Alguém que não seja muito bom com palavras, já percebi o quão perigosas elas podem ser. Alguém que tenha carinho, paciência e que não se canse de me olhar (ainda que eu esteja de pijama azul com ursinhos felizes e pantufas rosa-choque). Alguém que procure me conhecer e principalmente me mostrar quem é, ao invés de esconder. Alguém que não se importe com a primeira e muito menos com a última bolacha do pacote. Alguém que pense em mim quando o pensamento viaja. Alguém que ao ser abraçado me abrace em retorno com a mesma ternura de quem busca proteger um anjo. Um príncipe que saiba que a história começa depois do "the end" e ache isso tão fascinante quanto eu. Alguém que traga paz pro meu coração. Me traga animo, seja pra correr todos os dias ou pra me arriscar a comer rúcula. Alguém que respeite o fato de eu odiar tomates secos. Um príncipe que ature as minhas manias chatas e que me ajude a mudá-las. Alguém pra usufruir todas as minhas qualidades, porém conhecer e tolerar todos os meus defeitos. Alguém disposto a me descobrir. Alguém que me procure em horas boas e horas ruins, e seja em qual delas for, saia um pouco melhor do que chegou. Alguém que tenha belas trocas a fazer e grandes descobertas pra compartilhar. Alguém que viva o presente. Alguém que me mostre a realidade. Alguém que não tenha medo de me mostrar o que pensa e muito menos o que sente; que seja franco comigo e consigo mesmo. Um príncipe fissurado em música, de preferência com sonho de montar uma banda e tocar por aí. Alguém com um belo senso de humor e dois belos olhos. É muito importante que sejam dois olhos! Alguém com um beijo doce e um abraço protetor. Que confie em mim e realmente tenha motivos pra confiar. Alguém que segure a minha mão quando preciso e não solte, me dando a verdadeira certeza de ser meu príncipe. Um príncipe que seja assim pra mim e só pra mim. Um príncipe único e sincero, e não um príncipe em série. Um príncipe que entenda razoavelmente sobre crises femininas e que pelo menos, respeite. Um príncipe que saiba pedir perdão e que não tenha o orgulho afiado como faca. Não me importo se ele gostar mais de natal do que de ano novo, nem se não souber cozinhar muito bem. Mas, quero um príncipe que cumpra o que prometa e que não "prometa" demais. Um príncipe que não me hipnotize, mas sim, um que me prive de todos os sedativos. Um príncipe que lute e que não desista de mim. Não enquanto houver amor. Quero o meu príncipe, com uma face só e disposto a se mostrar e a se fazer príncipe; se fazer o meu príncipe.

Fora isso, meu príncipe pode ser gato, simpático, bem sucedido... E, se não for assim que seja bom, que seja saudável, que traga felicidade, amor e luz e que seja o meu príncipe. Seja ele homem, mulher, branco, preto, amarelo, azul, velho, novo.. O resto a gente dá um jeito.

6 de janeiro de 2008.
Eu gosto de dormir ouvindo música apesar de sempre desligar a música na hora de dormir. Eu não tenho hora pra dormir e não sei nadar ainda. Assisto uma quantidade assustadora de filmes e, sempre que possível, com pipoca, brigadeiro e guaraná. Aham, guaraná, porque coca é meio ruim. Tenho algumas idéais boas, se você tiver paciência pra selecionar. Sou péssima pra contar piadas, rio de coisas que a princípio não parecem nada engraçadas e sou viciada em baixar músicas na internet. Eu falo demais, as vezes. Mas, se eu não falo, as pessoas estranham e perguntam se eu to bem. Penso demais e complico demais sempre. Eu sou inquieta. Realmente penso que esse mundo não foi feito pra mim. Ou eu quem não foi feita pra esse mundo, enfim. Não consigo me preocupar com o que, bom, as pessoas normais se preocupam. Minha felicidade é bem diferente das felicidades que eu vejo por aí. Sonho muito, fantasio muito e no momento não sei direito o que sonhar. Prefiro viver dentro de mim. Escrevo coisas que não fazem sentido no meio da madrugada. Acordo tarde e tenho a impressão que o meu dia nunca rende. Eu não gosto de ter medo, mas eu tenho e odeio três vezes quando ele me domina. Me canso das pessoas medrosas demais. Falo sozinha em inglês e ainda pretendo viajar pra fora do Brasil. Matei aula poucas vezes e já quis matar alguns milhões de professores. Odeio a palavra arrumar. Arrumar dinheiro, arrumar o quarto, arrumar a mala, arrumar espaço. Sou desarrumada e nada prática. Sou subjetiva, acredito no que não posso provar. Não sei o que quero ser quando crescer. Não gosto de cantar parabéns nos aniversários. Não consigo ver sangue sem passar mal e antibiótico já não faz muito efeito no meu corpo. Não tirei os sisos ainda e to começando a perceber o quanto esse tal de juízo dói pra nascer. Eu falo baixo quando tenho que falar alto e falo alto quando tenho que falar baixo. As vezes sou muito grudenta mesmo sabendo que ninguém gosta disso. Não gosto de beterraba, não gosto de barulho na hora da prova e não gosto de laranja quando tá doce. Gosto mais da parte branca do que da parte vermelha da melancia. Ouço a mesma música um milhão de vezes e juro que meu quarto tem isolamento sonoro. Música? De preferência bem alta e sempre. Eu adoro cartas e guardo todas. Não gosto de preconceitos e não gosto de salto muito fino e muito alto porque não consigo andar. Não me sinto bem usando vestido, mas as vezes uso. Tenho umonte de calças jeans mas sempre encontro algum defeito nelas. Acho os meus pais o casal mais lindo do mundo. Meu cabelo é um caso a parte e eu ainda não entrei num acordo com ele. Nunca vi um furão. Acho que furões não existem. Nem girafas. Sou péssima pra dar presentes e se tivesse uma gata ela se chamaria Raiska. Não sei blefar jogando truco e sempre esqueço de dizer "uno" quando to quase vencendo o jogo. Eu sempre esqueço de alguma coisa e, apesar de saber disso, nunca lembro do que esqueci. Eu gosto de laranja e roxo separados. Juntos eu gosto de preto e branco, vermelho e preto, cinza com verde.. Nunca gostei de usar amarelo, mas uso com uma frequência relevante ultimamente. Prefiro oncinha porque zebrinha eh meio brega. Sou friorenta e até como sorvete, mas gosto mesmo de chocolate. Tenho problemas pra comer, com horários pra dormir, pra entender e pra viver. Eu escuto músicas e fico achando que foram feitas pra mim. Eu como e sinto vontade de dormir e, se eu durmo, sinto fome. Não encontro palavras pra me definir e eu não sou, nem de perto, o que gostaria de ser. Eu sou uma contradição. Uma explosão daquelas bem iluminadas. Eu sou acidente de carro. Daqueles bem graves. Sou bem mais que isso, mas sacomé.

9 de junho de 2008.
Quem disse que rodízio não emagrece?

Puta que o pariu são 6:20! Já dizia o solitário estudante de Direito João Ribeiro. Acomodado no seu Picanto ano 2008, ouvindo Nando Reis e os Infernais, parado atrás de um aluno solitário da Matemática da FURB, que consultava o horário e pensava, puta que o pariu são 6:20. Este estava parado atrás do solitário professor de História da FURB, que pensava no modernismo até que olhou para o relógio e exclamou: Puta que o pariu são 6:20!
Logo a sua frente estava numa moto, a solitário estudante de Publicidade da FURB, olhando para os lados intediada, que, naquele momento perguntou que horas eram para o estudante solitário de Medicina da FURB a sua direita que respondeu gritando: Puta que o pariu... SÃÃO 6:20! O solitário estudante de Moda da FURB que estava parado no carro da frente ouvindo Cher, ouviu o grito e exclamou: Ui! são 6:20.
Você quer fazer parte desse congestionamento solitário? Ou solucionar o problema que enfrentamos para ir a facul?
Dê carona, faça rodízio, use o coletivo, exercite seu corpo! Emagreça o trânsito! Para isso, basta acessar sousolitario.com e encontre solitários que moram perto de você.

Agora.. a trilha sonora da "viagem"? Essa é um problema de vocês!
Hey, Let's go! Vamos emagrecer o trânsito.


Brunna e Camila - Aula criativa de Língua Portuguesa - Comunicação Social - FURB
Maio de 2008.
Seria como um vidro escuro.
Você sorriria e eu estaria do lado de fora.
Respirar então, pareceria difícil.
Se assemelharia a fuligem no ar.
Talvez fosse só a falta de costume com o ar tão puro.
Não se preocupe;
Não é letal.

23 de abril de 2008.
A tua tristeza tem trilha sonora?
Quantas vezes já te feriram os ossos?
O que te mantém vivo?
Quantas vezes você parou de respirar?
E quantas vezes você parou para respirar?
O que você faria se me tivesse nas mãos?
E o que faria se me visse fora delas?
Quantas vezes você parou de respirar?
O que te mantém vivo?
Quantas vezes já te feriram os ossos?
Diz aí, a tua tristeza tem trilha sonora?

16 de abril de 2008.
É engraçado como tudo parece diferente à noite. As luzes da cidade ganham brilho, em compensação às cores perdem a intensidade. O céu se rende à escuridão que, por sua vez, se estende ao universo.

Agora a lua brilha e enxerga as luzes mais brilhantes e as cores mais apagadas. Sabe como é, dizem que a lua não tem brilho, mas brilha.

Não deve ser fácil ser o sol. Partindo do pré-suposto que antes, o todo (a lua, a terra, o sol e o resto, não tão relevante) era condensado; se a lua já se sente sozinha assim, grudadinha na Terra, imagina ele. Deve ser complicado ter o futuro na palma das mãos desde o começo dos tempos (ao menos, desses tempos). Pra quem não entendeu, eu to falando dos tempos que se seguem desde que o todo deixou de ser "uma coisa só" e se tornou um universo gigantesco. Irônico é que muitos denominam isso de "A Criação".

Quem sabe o sol só tenha o cuidado de brilhar todos os dias, cumprir a sua agenda, uma hora aqui e outra ali, pra cuidar da lua. Negócio é, que apesar de todo o cuidado com a lua, por algum motivo, na explosão (aquela que alguns denominam criação) lhes foram designadas missões em lugares diferentes. Pode parecer cruel o fato de que as circunstâncias deram certo desse modo, mas a lua se faz necessária onde está e o sol não foge da regra.

A lua tem o poder de controlar ao seu gosto os mares e as marés de um planeta água. Pode parecer pouco, mas nas mãos da lua, assim intensa e mutante como é, esse poder pode ser verdadeiramente catastrófico.

A lua, que não tem brilho, mas agora brilha, vive de fases. Quem sabe o sol só tenha o cuidado de brilhar todos os dias, cumprindo a sua agenda, uma hora aqui e outra ali, pra cuidar da lua. Ela, que inspira, faz sentir e faz sonhar.

O sol, que por suas razões aceitou a missão de ir para o centro de um "novo mundo", regendo os 8 ou 9 planetas daquele sistema que lhe foi posto sobre cuidados; aceitou também ficar distante da lua. Foi uma quebra de promessas, quase uma tragédia. Mas ainda assim, havia uma condição. Não deixaria de acompanhar "a sua pequena" (naquelas circunstâncias, já não tão sua), fosse como fosse, estivesse ela repleta de amargura ou não. Acho que nem é preciso explicar que toda a mudança tem seus efeitos. Por isso, foram dadas a lua, as estrelas, para que estas fizessem companhia, controlassem a sua fúria e curassem aos poucos suas feridas. Ao sol, foi dado a luz, o calor (não é a toa que ocorrem intensas e constantes explosões em toda a sua extensão) e a responsabilidade.

Foi assim, uma decisão acertada com o Diretor lá de cima e eles se separaram. O sol tomou seu posto e começou a cumprir a sua tarefa, que já era almejada a tempos com o conhecimento da própria lua. Ela, revoltada, por séculos recusou-se a aparecer, causou tempestades, maremotos e dilúvios, um aqui e outro ali. Era difícil deter assim, de uma hora para a outra, a fúria de uma lua que se viu obrigada a seguir uma vida achando que fora abandonada pelo sol naquele universo estranhamente imenso. A lua, até então, desconhecia seus limites (até mesmo territoriais), já que era tão condensada com o sol até a hora de separação, ou criação.. Enfim, como preferirem.

É. A lua não fazia a mínima idéia das condições do contrato. E assim foi. Dia após dia, cada um do seu jeito, se adaptando aquele novo e complexo sistema, até que o mesmo caísse na rotina. As páginas da agenda iam sendo arrancadas e, no mesmo ritmo, a idéia do todo inicial ficava mais e mais distante. É assim que acontece, não que deixe de doer, mas a dor acostuma.

A lua, que se recusava a aceitar qualquer coisa que viesse do sol, mesmo que lááá de longe, continuava sem aparecer, sem brilhar, apenas criando catástrofes que aos poucos passavam a se limitar a momentos de TPM ou de fuga. Sabe como é, nada de demonstrações pro resto do universo. Quem se importaria, afinal? E mais uma vez foi assim. Aos poucos as coisas foram se acalmando, a lua foi se recompondo, tocando a eternidade para frente e estudando qual seriam as suas tarefas para o resto da tal eternidade em questão. O destino do sol ela já não sabia. Aliás, dele ela já não sabia mais nada e duvidava até mesmo do que costumava saber. E como quem possui o controle da situação, fingia tão bem, como era usual, que nem queria mais saber, que não sentia mais e que tampouco ainda se importava. O sol a observava de longe e por breves momentos congelava pelos sentimentos que o invadiam ao acreditar nas inverdades tão bem tramadas da lua.

Deve ser complicado ser o sol. Imagina, ter assinado o contrato, tomado a decisão, deixando a sua pequena aos cuidados das estrelas com a idéia fixa de que não era merecedor de tal companhia. Ele havia assinado o contrato e era fato imutável. Era grande (e isso a lua sempre disse), mas se sentia fraco. Ele havia assinado, mas não pôde deixar de impor uma condição; e é essa, que complica tudo. Observar já não significava mais participar e em sua mente, para aquele amor já não havia caminhos. Porém, ele por breves momentos congelava pelos sentimentos que o invadiam ao acreditar nas inverdades tão bem tramadas da lua.

Era assim e poderia ser para a eternidade. Dois mentirosos. Poderia ter sido assim se o sol não tivesse renegociado o contrato. O Diretor do sistema avisou que era arriscado, porém, o sol tinha essa autonomia e a escolha estava em suas mãos. Estava decidido, se aproximaria novamente da lua, gradativamente, até que pudesse encontrá-la apenas mais uma vez, caso ela concordasse. Assim surgiu o movimento dos planetas e pouco a pouco o sol voltou a se aproximar da lua.

Deve ser complicado ser o sol. Ver as faces mentirosas da lua, acreditar nelas e sentir o que sentia. Ter que escolher entre procurar ou apenas seguir a sua nova rotina, que agora lhe parecia vazia.

E assim foi. Começou uma troca de mensagens via estrelas cadentes ou algo assim. No começo, à distância entre os dois era a maior possível. Era assim que a lua queria. A medida em que os planetas se movimentavam, a aproximação dos dois se tornou inevitável em meio aquele turbilhão de sentimentos despertos. Apesar de a lua se manter estática, na posição mais longe do sol que lhe era possível (em relação a Terra), relembrar aquele jeito de ser, que não tinha sido esquecido nem por um milésimo de segundo, fazia os sentimentos insistirem cada vez mais em se deixar transparecer. Os planetas se aproximavam e a verdade sobre tudo surgia. A verdade sobre os sentimentos, a verdade sobre o contrato e até mesmo a condição estabelecida pelo sol. Foi então que a lua teve certeza que nem a distância, a teimosia, o seu orgulho ou o passado seriam suficientes para apagar o que eles sentiam. E não que isso fosse uma coisa boa. Estava feito. O sol tinha tomado a sua decisão e ela nem teve chance de opinar (mesmo tendo certeza de que não opinaria). Ela não tinha sido levada em consideração e isso para ela - deveria ser - o fim. O fato é que estava feito e ainda assim, não tinha acabado, aliás, não estava nem perto.

Mas era assim. Não sabiam se por conjunção estelar ou reações químicas. A medida em que se aproximavam, pouco a pouco eram quebradas as barreiras universais que havia entre os dois. Era como se o universo saísse do silêncio e uma conhecida canção voltasse a tocar. Apesar disso, ambos sabiam exatamente o limite daquela relação, intensa e bruscamente cortada no ponto em que ultrapassava a linha tênue da amizade fiel que já tinham construído a tempos atrás. A lua ainda brincava com os mares e marés a seu gosto, em uma dança descontrolada. Podia ter sido naquele momento, mas, ao se avistarem, perto como estavam, para a lua o ar faltou e o sol sentiu a temperatura diminuir, ainda que contra a vontade. E isso foi tudo.

Deve ser complicado ser o sol. Após aceitar uma missão assim, não poderia se dar o luxo de experimentar aquela sensação de esfriamento. Pediu ao Diretor que parasse o movimento imediatamente. Percebeu que não estava pronto para encontrar a lua sem, quem sabe, ultrapassar a tal linha. Já possuía suas novas responsabilidades e compromissos. Tudo estava longe de ser fácil para ele. E mais uma vez foi assim. Ficou ali, sem saber o que fazer, sabendo que era tarde demais e apenas esperando que a lua se escondesse novamente atrás da Terra.

Aquela proximidade já lhes soava confortavelmente incomoda e voltar atrás, o sol sabia que já não podia. Foi então que decidiu. Aproveitaria sua chance de encontrá-la novamente. Seria apenas uma conversa, um esclarecimento. Matar a saudade, intensa e sem explicação, pelos milênios que passaram longe. Já estava combinado e acertado. E na mente de ambos, se controlar seria bem mais fácil do que realmente.. bom, foi.

Alguns chamam de eclipse o que eu prefiro chamar de encontro. Enfim, é a mesma coisa. Um milésimo de toda a eternidade. Essa parte eu não preciso detalhar, ? Bom, era pra conversar e assim o foi. Mas realmente se controlar foi mais difícil do que eles imaginavam que seria. Quanto ao "descontrole"? Foi como sempre, talvez melhor e mais intenso do que eles lembravam. O difícil era se separar novamente, sabendo que aquela poderia ter sido, novamente, a última vez.

Mas já estava decidido antes mesmo de acontecer. E assim foi. A lua como sempre intensa, se via agora repleta de luz e um calor que lhe aquecia a alma. Repleta de muitas perguntas e pouquíssimas respostas. Com tudo isso, ela não fazia a mínima idéia do que fazer. Jurou a si mesma que não iria mais se deixar depender do sol, mas suplicava as estrelas que levassem e trouxessem mensagens o tempo inteiro, dia e noite. A lua, agora repleta de luz e dúvidas, deixou para trás os fantasmas do passado e resolveu se concentrar na eternidade. O sol já não estava mais a seu lado e isso não podia ser tão ruim assim. Se fosse, o azar seria deles. Graças a luz que havia lhe invadido, a lua decidiu que já era tempo de voltar a brilhar com toda a intensidade. E assim surgiu a lua cheia. Engana-se quem acha que a lua não tem brilho. Ela tem sim, e muito, ainda que o mesmo venha do sol. Dessa vez, manter esse brilho é que era mais difícil do que ela supôs que seria.

Já o sol, sentia uma força nova dentro de si. Porém, o vazio que a saudade lhe causava crescia cada dia mais e com mais intensidade. Observar a lua, sem fazer parte da vida dela, começava a lhe parecer cada dia mais insuficiente. Em uma nova reunião com a Diretoria lá de cima, implorou que lhe fossem dadas novas oportunidades de encontrá-la. E foi assim que aconteceu. Ficaram condenados a raros encontros, sem datas estabelecidas, a mercê das condições de todo o resto do sistema. E essa cláusula do tal contrato, não estava sujeita a alterações, salvo a possibilidade de cancelamento dos tais encontros, que por sinal, já foi cogitada em tempos de caos, mas não deu muito certo.

Agora já não tem quem não conheça a fase estável da história. Os planetas se movem, a lua tem fases, o sol cumpre suas tarefas sempre buscando estabilidade e os eclipses acontecem de tempos em tempos. O que eu venho aqui pra contar, que já não me parece assim tão óbvio, é que agora o sol e a lua cumprem suas missões, se comunicam por estrelas cadentes e se esforçam ao máximo para que haja o mais breve possível, as tais condições ideais para que ocorram novos eclipses. Que agora toda a estabilidade do universo se torna instável a medida que a Terra segue sua trajetória não circular em volta do sol, levando a lua consigo e, por vezes, puxando-a para os cantos mais longínquos do sistema.

Eu ainda acho que o sol cumpre sua agenda para cuidar da lua e tentar, a todo custo, dar a ela o brilho necessário. Quem sabe o caminho da eternidade? Mas a lua sabe que nem a distância, a teimosia, o seu orgulho ou o passado seriam suficientes para apagar o que eles sentem. Esperar por eclipses se torna cada dia mais complicado, mais vazio, mas não impossível. Quem sabe um dia a lua se desprenda da Terra, depois de organizar tudo o que já desorganizou em tempos de caos, ou quem sabe o sol desista do contrato. Aliás, quem sabe o caminho da eternidade? Apesar das incertezas universais, acho que agora muitos entendem que parece uma crueldade que as circunstâncias tenham dado "certo" dessa forma. Talvez pareça crueldade, talvez seja, mas, sabe.. Eu não sou lá muito imparcial nessa história.

Data desconhecida - escrito em diversas partes.
Eu vivo me perguntando se nós seriamos capazes de fazer tudo o que já fizemos se soubessemos o final de cada história. Assim, se o final aparecesse como uma legenda, ou um balãozinho desses de histórias em quadrinhos. Se o futuro não fosse um belo de um mistério e o pensamento não tivesse absolutamente nada de privado. Com todos sabendo tudo sobre todas as dimensões da vida e, principalmente, da vida alheia.
Questiono se seria mais fácil viver numa sociedade feita somente de verdades. Será que suportariamos certas situações bizarras que vivemos, com mais frequência que o imaginável? Aquelas do gênero pensamento de namorado em crise, por exemplo. "A vida lá fora e eu aqui namorando..", ou a amiga que se ofereceu pra ouvir seus lamentos e acaba pensando se o filme que está passando na sessão da tarde era De Volta a Lagoa Azul..
É, são coisas que irremediavelmente acabam por acontecer. Dá pra culpar alguém? Será que suportariamos o mundo ou odiariamos a tudo e a todos? Então, o ser humano conseguiria conviver com a verdade absoluta? Você suportaria?

18 de janeiro de 2008.
Amor;

eu fiquei muito triste quando descobri que você morreu. Teria sido uma perda quase insuportável se você já não estivesse longe de mim a tanto tempo. Longe a ponto de eu nem ter tomado conhecimento dos fatos no momento exato da tua partida. Aliás, esse é um momento que eu desconheço até hoje.
Podias ao menos ter me mandado um sinal de fumaça avisando que tu estavas te afastando do meu peito. Não recebi nem um alerta. Logo eu, que sempre te jurei eternidade.
Amor, desculpa por eu não conseguir te deixar descansar em paz. É que você partiu e deixou dentro de mim tantas perguntas, coisas que eu ainda não me sinto preparada pra responder. Amor, me disseram que você não morreria. Se é assim, onde está você, se não aqui dentro de mim?
Amor, desculpe-me por escrever tanto e já não escrever mais pra você. Tu sempre soube que meus escritos nem são tão sinceros assim. Nenhum deles. Aliás, os de quem o são?
Desculpa ficar te procurando entre esses túmulos. É que ainda ando meio vazia. Não sei direito o que fazer sem você aqui, se não for te procurar. Cansei de revirar cadáveres. O pior de tudo é que estou ficando com raiva deles. De todos, de tooodos eles.

15 de janeiro de 2008.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Vocês já devem ter cansado de escutar que no Brasil coisas esdrúxulas viram moda. Que o brasileiro é criativo, não resta dúvidas. O problema é que, que o brasileiro é um grande "copiador", também não. Não seria problema se todo o brasileiro primasse pelo bom gosto na hora de copiar. Tudo bem, eu respeito o livre arbítrio de quem quer usar roupas de personagens “suburbanas-descoladas” da novela das oito, que são uma afronta ao meu gosto pela harmonia visual, e de quem quer fazer danças “genérico robóticas” de “boyband made in USA” nos programas da tarde de domingo. Posso conviver com isso com algumas boas doses de Aspirina. O fato é que, os acontecimentos que viram moda não acabam por aí.
Um dia, uma linda menina e seu namorado resolveram matar os pais da bela. Estão lembrados? Foi chocante e todos nós fomos obrigados a ouvir milhares de comentários de todos os gêneros, números e graus. Foi tão chocante e tão comentado que virou moda. E desde então é "clássico da estação" dar facada, machadada, paulada na mãe; tiro, flechada, surra no pai... Ode ao jeitinho brasileiro, fazendo a diferença até no padrão da moda.
Dessa vez, sem muito alarde nas mídias, as vítimas foram Arnaldo Zeni e Odette Zeni. O crime ocorrido em 2005 seguiu a moda Suzane. O casal foi morto pela filha Sônia Maria Zeni Prosdócimo e pelo neto Márcio Zeni, sendo a filha a mentora do crime. Percebem? O padrão clássico, homem e mulher, sendo a mulher a idealizadora do plano. Por falar nisso, sempre ouvi falar que as mulheres são realmente mais conhecedoras e adeptas da moda.
O que me fascina no povo brasileiro, sem sombra de dúvidas - e me desculpem pela repetição - é o tal jeitinho brasileiro. O padrão é clássico, mas vamos dar pontos à criatividade. Arnaldo foi inicialmente sufocado com meias e Odette recebeu uma batata inglesa na boca. Um transformador de 220W foi utilizado para provocar choques e possíveis ataques cardíacos no casal. Seguindo a maratona, que deve ter sido pra lá de cansativa, o casal foi enrolado em lençóis e edredons para que os gritos não fossem ouvidos durante o estrangulamento e por fim, mas não menos importante, a cabeça de Odette foi enrolada com filme plástico para embalar alimentos.
São cinco estrelinhas por criatividade. Mais cinco por cara de pau. No dia seguinte a mãe e o filho chamaram a polícia alegando que o casal havia morrido por causas naturais. A farsa, ao menos, não durou muito e os dois foram presos em flagrante. Outras cinco estrelinhas vão para o sistema brasileiro, que apenas ontem (terça, 9) julgou e, ao menos, condenou o caso. Sônia, de 61 anos, foi condenada há 27 anos pelo crime, 13 anos pelo pai e 14 pela mãe. Estou certa que a estratégia do filme plástico ao redor da cabeça lhe rendeu esse ano de diferença entre um e outro. Márcio morreu em 31 de dezembro de 2005, aos 34 anos, por problemas pulmonares ocasionados pelos seus singelos 120 quilos.
No Brasil, situações esdrúxulas viram moda. Eu me pergunto, por onde anda o fator humanidade da humanidade? Agora, como se não bastasse matar os pais, tem gente a dar com os pés jogando os filhos pela janela, pela sacada, do carro... Não há motivos que justifiquem tal tipo de crime, e se seres que se dizem humanos, como Sônia e Márcio, forem cruzar o meu caminho aqui na Terra, vou pedir aos marcianos que me tirem desse planeta azulzinho com urgência. Não quero ficar aqui pra ver crimes, avaliados por estrelinhas amarelas no canto direito inferior à manchete, estampando as colunas de moda que virão a ser publicadas num futuro, quem sabe, mais próximo do que se imagina.

Crítica elaborada com base numa notícia verídica em 10 de setembro de 2008.
Era somente ela e a luz da lua. Em um dado momento, significante apenas por detalhes, ela fita o espelho usando apenas o canto dos olhos, quase como quem não quer ver. Talvez de fato não quisesse. A imagem dolorosa e nitidamente refletida revela traços de uma desconhecida. O cabelo mais longo do que lembrava, inundado de uma tonalidade estranha e inesperada. A raiz denuncia uma cor familiar aos olhos: algo como castanho acinzentado, que já havia sido quase esquecido entre a névoa da mudança desenfreada de outros tempos. São três quilos a menos desde a ultima vez que realmente se encarara. Novas roupas, um manequim ao menos. Deveria estar orgulhosa, mas não. Era a realidade vindo de encontro à superfície de seu ser. Dava para sentir a dor nos ossos e a ardência da pele. Dos dedos finos despontavam unhas mal cuidadas, fracas e inevitavelmente sujas. O sangue vermelho-pálido escorria sem força alguma pela face, arruinando a bela maquiagem e revelando uma série de imperfeições. Comprara novas meias brancas, já que, por alguma razão, não tolera meias de outra cor - ainda que insista em surrá-las ao andar descalça o tempo todo pela casa. - Os olhos rodeados por um tom arroxeado quase que vibrante denunciam sem piedade as últimas noites mal dormidas. As rachaduras na boca demonstravam que o inverno continuava a fazer efeito. Já era tarde da noite. O cansaço se fazia presente e assim foi até que adormeceu. Adormeceu naquele dado momento que pairou e se foi; sem lembrar que amanhã era um novo dia. Fazia tempo que ela não encarava a imagem no espelho. Fitou rápida, precisa e dolorosamente, apenas com o canto dos olhos. Assim, com aquele jeito de quem não quer ver.

Texto produzido em 15 de maio de 2008.
..Ela acordou de um sonho estranho, sem saber ao certo se era ou não real. Um show, um alarme, correria e fogo. Ficou pensando em quão real fora aquela irrealidade e o que o inconsciente tentara expelir à superfície, obviamente sem sucesso. Nunca obteve bons resultados nesse tipo de meditação, e, afinal, ainda nem sabia ao certo se era real. Indagava porque fogo lhe causava tanto pavor e tanto fascínio. Naquele momento apenas o sono insistia em fazer latejar os olhos, como quem lembra ironicamente da sensação de acordar quase que sem dormir. A insônia insiste em negar a culpa. Apesar disso, ela sabe que o último momento que consegue se recordar do dia anterior era todo escuridão e, agora, por entre as frestas da persiana, ela pôde enxergar a luz do sol invadindo timidamente o quarto.

Continuação - Texto produzido em 16 de maio de 2008.